sábado, 7 de novembro de 2015

O ato de ouvir!


Vamos nos sentar na praça e ler!

Em “O narrador”, Walter Benjamin diz que o narrador, figura que detinha saber e conhecimento, já não narra mais nada, porque esses elementos essenciais na elaboração das narrativas se perderam ao longo do tempo. As experiências de outrora foram silenciadas pelas máquinas da Revolução Industrial ou pelas bombas das guerras. Enfim, a reunião em volta da fogueira para ouvir histórias, imagem que muito me fascina, tornou-se uma vaga lembrança.


Embora Benjamin e Adorno (que também fala do narrador, figura por qual tenho grande paixão) discutam que o ato de contar histórias, de trocar experiências tenham se perdido no tempo, penso que o ato de ouvir ainda continua a existir.

Não sei se há algum ensaio sobre isso, mas gosto de pensar que ouvir seja tão importante quanto escrever, ler, opinar. Na verdade, eu adoro sentar e me deixar levar pela voz de meu interlocutor. Mais do que isto, ao ouvir eu tenho a chance de aprender um novo ponto de vista, um novo modo de ver o mundo. E de mudar, de evoluir.




Nestes 5 e 6 de novembro, tive a grande chance de me sentar em frente ao palco da Universidade Cruzeiro do Sul, em São Miguel Paulista, e ouvir não uma, mas várias vozes. Vozes de pessoas que admiro porque escrevem de um jeito incrível e pensam de um jeito mais incrível ainda.

Realizado pela Fundação TideSetubal, o 6º Festival do Livro e da Literatura de São Miguel promove a leitura, o livro e a Literatura (minhas paixões). Este ano, a edição 2015 acontece em 40 pontos da região de São Miguel Paulista, com feira de livros, saraus, música, dança, teatro, contação de histórias, entre outras atividades. Enfim, são três dias em que ouvir e contar histórias ganham força e presença.


Além desses eventos, acontece a Conversa com Autor, ou seja, um escritor é convidado para discutir um tema e conversar com o público. Inicialmente, eu não iria. Mas quando você descobre que o autor da conversa é aquele que você lê. Não há decisão certa que resista a isso. E lá fui eu, ouvir quem eu sempre leio e releio.

No primeiro dia, ouvi Bernardo Carvalho e Cadão Volpado. Autores de O sol se põe em São Paulo e Pessoas que passam pelos sonhos, respectivamente; essa experiência foi significativa. Gosto de ouvir o autor que leio e estudo falar, e ter a chance de conversar com ele sobre o livro, sobre a forma como ele construiu a obra, trocar impressões que tive ao abrir e fechar o livro.




No segundo dia, ouvi Leonardo Sakamoto e Luiz Ruffato. Este autor de Eles eram muitos cavalos, e aquele do Blog do Sakamoto. E diferente da primeira, cujos autores eu sabia que iriam, esta segunda conversa foi uma grande surpresa. Na verdade, forma dois dias prazerosos e divertidos.



Ao ouvi-los, conheci o humano por detrás da obra. Entendi que a democracia é frágil, porém, comporta mais diferenças e cores que o autoritarismo de visão única se recusa a ver. Compreendi que o outro é tão humano quanto eu, logo, merece respeito. E quando se tem respeito, o ódio desparece e o amor surge e a humanidade evolui.

Sendo assim, ouvir é tão importante quanto opinar, pois é na espera de sua vez de falar, que você reflete sua opinião e a compara com a do outro, seja para concordar seja para discordar. E não importa qual caminho você vai seguir, o importante é o respeito, porque é na diferença que o mundo ganha cor e vida.


quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Educação Estadual Paulista: só vejo nevoeiros!

Depois de um longo tempo longe do blog, mergulhada nas inúmeras leituras do mestrado... resolvi voltar. É uma volta mais do que necessária. Embora eu nunca tenha usado o Palavra Escrita para falar sobre outros assuntos, já que o foco aqui é a Literatura, abri uma exceção: às vezes, é preciso parar um pouco a leitura e olhar o que acontece a nossa volta!



Com a redistribuição de alunos por ciclos que acontecerá em 2016, muitas escolas vão fechar, muitos professores vão perder o emprego e muitos alunos serão prejudicados. Enfim, será um verdadeiro caos! E sem falar que só a transferência desse povo todo já vai gerar uma bagunça generalizada. Mas a questão mais grave vai ser o fechamento de turnos em várias escolas, em especial o noturno.

Por exemplo, a escola tem dois ciclos, ensino fundamental II e ensino médio, sendo este noturno. Muitos dos alunos desse período trabalham ou fazem cursos técnicos. Na escola em que trabalho tem muitos casos assim: aluno que trabalha o dia todo e estuda à noite. Outros que fazem técnico de manhã ou de tarde e concluem o médio à noite.

Agora vão supor que a escola não terá mais o ensino médio. O que acontece com os alunos desse período? Eles vão ser transferidos para uma escola que terá, como deseja o secretário, ensino diurno (manhã ou tarde). E o que acontece com o aluno que trabalha? Será que ele vai conseguir mudar o horário do trabalho dele? E o que faz escola técnica de manhã? De repente ele consegue estudar à tarde. E se o curso for de tarde, e a escola nova só tiver ensino médio à tarde? Como este aluno fica? Às vezes o curso técnico tem em outro horário. E se o curso que esse aluno faz só tiver num horário? Muitas ETEC´s oferecem cursos técnicos apenas num determinado horário. Ou seja, se o aluno precisar mudar de horário, ele terá que ir para outra escola. Complicado, não?

Agora vamos supor que a escola fica com o ensino médio e o fundamental II vai para outra escola (prefiro não pensar no que vai acontecer com estes, mas vai ser complicado também). A situação não muda. Os alunos terão que adequar suas rotinas para poderem concluir o ensino médio. E se não conseguirem? O que acontece com eles? Dependendo da situação, vai ter aluno que terá que trancar o curso que faz. E se ele trabalha, duvido muito que ele saia do emprego para estudar.

Sem falar que com essas mudanças, o aluno pode ir para uma escola longe não só da casa dele, mas também do trabalho ou do curso. Aumentando gastos com transporte que antes ele não tinha. Enfim, redistribuir os alunos para escola com um único ciclo não vai melhorar em nada. Essa redistribuição já aconteceu antes e não deu certo. Mas mesmo assim, vão repetir a experiência, que segundo o secretário vai ser bom para o aprendizado do aluno, pois a escola tendo só um ciclo poderá trabalham melhor os conteúdos, focar melhor o currículo... Será que vai mesmo? Os transtornos que vão surgir, a meu ver, não compensam.

Além disso, os professores vão ter que mudar de escola. Terão que ir para outras unidades, às vezes, mais longe da atual. E se ele tiver acumulo, terá que escolher também. Sem falar que o professor pode ter um outro trabalho cujo horário não tem como mudar. Por exemplo: o professor trabalha numa empresa e leciona à noite. Muda para uma unidade que só terá diurno, o que acontece com o trabalho dele? Dependendo da situação, esse professor terá que exonerar.

Já existe uma falta significativa de professores na rede e com essas mudanças, a tendência é aumentar ainda mais. Caso o professor acumule o estado com a prefeitura, é obvio que ele vai para prefeitura. Mesmo porque, segundo o secretário, não terá aumento salarial em 2016. Agora, quem só tem o estado, com certeza, enfrentará problemas. 

Esse professor poderá ir para uma escola longe da casa dele, ele terá que trabalha num horário diferente do que está habituado e se ele estuda, por exemplo, corre o risco de ter que trancar o curso. Enfim, será uma situação bastante complicada não só para os professores, como também para os alunos, que terão que mudar suas vidas em função de uma ideia que todos nós já conhecemos o final.

Espaço para uma crônica

  A noite do barulho   Era 1h50 da manhã de sexta-feira quando fui dormir. Um pouco tarde, eu sei, mas o sono tem se atrasado ultimament...